Para uma classe profissional, ao menos, a gestão Dilma Rousseff foi unanimemente lucrativa. Seja na espontaneidade com que saudava em público o ET de Varginha e a mandioca, na rispidez de seus trejeitos ou nos momentos em que aflorava sua indisfarçável personalidade mandona, a presidente afastada tem sido um inesgotável combustível para os humoristas. Quem apostou em parodiá-la fez bom negócio, obtendo colossais índices de audiência. É o caso de Márvio Lucio, o Carioca do programa Pânico na TV, e também do mineiro Gustavo Mendes, de 27 anos, que impulsionou a carreira ao imitar Dilma, de início apenas na internet e depois na TV, a convite da turma do Casseta & Planeta. A saída de cena da presidente trouxe um ponto de interrogação quanto ao futuro da personagem. Mas eles próprios tratam de afastar qualquer sentimento de orfandade e garantem a sobrevida de Dilma, ao menos no território demarcado do humor. “Ela é um walking dead que vai ficar nos assombrando”, diz Márvio, criador da Dilma Ducheff.
Tanto Márvio quanto Mendes reivindicam para si o pioneirismo na paródia. Mendes começou a postar vídeos no YouTube no início do primeiro mandato. Era tudo à base do improviso. Ele próprio se maquiava e o figurino se limitava a um terninho vermelho que havia comprado após juntar um dinheirinho. Sua Dilma é colérica e tem tom de voz muito acima do razoável, abusando de termos chulos e piadas sexistas. “Minha Dilma é apolítica”, diz Mendes, que tem a seu favor a incrível semelhança com a presidente afastada: passaria facilmente por filho dela. Também concebida na primeira gestão, Dilma Ducheff está sempre irada – na acepção original do adjetivo. Mas não manifesta a mesma neutralidade da outra: ela é claramente crítica à figura que a inspirou, refletindo a inclinação política de seu criador. Márvio revela com orgulho que nunca apertou 13 nas urnas.
No outro extremo desse arco ideológico situa-se Dilma Bolada, gestada pelo publicitário Jeferson Monteiro e que virou fenômeno nas redes sociais. Com tiradas um tanto apologéticas, Bolada faz deferência a sua homenageada, que, por sua vez, fez questão de conhecer pessoalmente o humorista. No ano passado, ÉPOCA revelou que a agência Pepper, ligada ao governo petista, remunerava mensalmente Monteiro. Em sua defesa, ele afirmou tratar-se de trabalhos prestados que nada tinham a ver com a personagem. Desta vez, ele não quis dar entrevista.
Como tem sido rotina no país, o humor dilmista se viu sugado pelo torvelinho da radicalização. Revoltado com os comentários que seus vídeos passaram a receber, Mendes decidiu tirar a pilhéria do ar e mantê-la apenas em suas apresentações no teatro. “As pessoas descontavam o ódio em mim. Elas me cobravam um posicionamento político. Peguei meu banquinho e saí fora”, diz ele, que, entretanto, promete retomar a protagonista nas redes sociais em breve, assim que os ânimos serenarem. Não tem sido mesmo fácil a vida de humorista nestes tempos de cólera. Márvio lamenta a truculência com que foi tratado em suas últimas tentativas de entrevistas- relâmpago com a presidente afastada.
Satirizar figuras públicas é um recurso eficaz para salientar seus excessos. Ao humanizá-las, os humoristas as tornam mais palatáveis. Não é de hoje que a paródia de políticos integra a antologia do humor aqui e lá fora. No Casseta & Planeta, Bussunda encarnava um Lula impagável, bem como eram também hilariantes o Devagar Franco vivido por Reinaldo e a personificação de Fernando Henrique Cardoso a cargo de Hubert. Recentemente, a comediante americana Tina Fey retomou seu personagem de maior sucesso: a paródia de Sarah Palin, a doidivanas candidata a vice-presidente nas eleições dos Estados Unidos em 2008. Sua inspiração desta vez foi um comício da campanha republicana que pôs lado a lado Palin e Donald Trump, como se já não fossem duas caricaturas na vida real. “A concorrência dos políticos é desleal”, diz Mendes. “Quem consegue ser mais engraçado que a deputada que homenageia o marido por sua honestidade e ele em seguida é preso pela Polícia Federal?”
Michel Temer que se prepare, pois já entrou na mira da turma. Seu jeito formal e empertigado é uma iguaria para os humoristas. Há seis meses Márvio vem treinando a imitação do presidente recém-empossado. Por enquanto, só voz. “Temer parece um daqueles locutores antigos de rádio”, diz ele, prometendo novidades para breve. Numa análise mais detida, Mendes vê semelhanças entre Temer e o Conde Drácula. Prepare o maxilar porque, pelo desenrolar das coisas, as gargalhadas estão garantidas.
José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil de Luiz Inácio Lula da Silva, foi condenado a 23 anos e 3 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A decisão é do juiz federal Sérgio Moro, que preside a operação Lava Jato.
Dirceu está preso desde agosto de 2015, quando foi deflagrada a 17ª fase da Lava Jato, a Pixuleco. Na sentença, Moro afirma que uma empresa de Dirceu recebeu R$ 15 milhões por uma consultoria que nunca foi efetivamente prestada. O montante, diz Moro, é fruto de propina da Petrobras. "O custo da propina foi repassado à Petrobras, através da cobrança de preço superior à estimativa, aliás propiciado pela corrupção, com o que a estatal ainda arcou com o prejuízo no valor equivalente", diz a sentença.
Esta é a segunda condenação de Dirceu por crimes de corrupção. Em 2012, no mensalão, o ex-ministro foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha a uma pena de 10 anos e 10 meses e a pagar R$ 676 mil de multa. O juiz Moro destaca que, mesmo quando ainda enfrentava o julgamento no Supremo Tribunal Federal pelo mensalão, Dirceu continuou recebendo a propina. Diz o texto: "O mais perturbador, porém, em relação a José Dirceu, consiste no fato de que recebeu propina inclusive enquanto estava sendo julgado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal a Ação Penal 470, havendo registro de recebimentos pelo menos até 13/11/2013. Nem o julgamento condenatório pela mais Alta Corte do País representou fator inibidor da reiteração criminosa, embora em outro esquema ilícito".
Na mesma sentença, Moro condenou João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, e Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, indicado pelo partido - ambos por corrupção passiva. No caso de Duque, pelo "pagamento, por sua solicitação, de vantagem indevida ao grupo político dirigido por José Dirceu". No caso de Vaccari, "pelo direcionamento ao grupo político de José Dirceu de parte da vantagem indevida". Ou seja, Moro desenha como o esquema do petrolão sangrou a diretoria de Serviços de Duque e direcionou a propina para o PT, sob o comando de Dirceu.
Quando Dirceu foi preso, em 2015, não houve grande comoção. Tampouco houve fila de petistas prontos para defendê-lo, como na prisão anterior, quando ele foi tema do slogan "Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro". Dirceu se tornou uma espécie de renegado do PT, símbolo do que o partido finge que não existe. Essa nova condenação, na semana pós-votação do impeachment no Senado, é mero detalhe para o desgaste político que o PT enfrenta no momento. Mas é representativa de um ciclo que parece se encerrar, de um enfraquecimento da legenda, em estado de negação sobre os erros cometidos nos últimos anos.
Sob o bombardeio de deputados que cobram a sua renúncia da presidência interina da Câmara, o deputado Waldir Maranhão (PP-MA) se encontrou ontem à noite, por duas horas, com o jornalista Mario Rosa, especialista em gerenciamento de crises.
Maranhão estava acompanhado do ex-deputado Márcio Junqueira, um de seus mais próximos conselheiros.
Rosa aconselhou Maranhão a "submergir" pelos próximos dias e evitar entrevistas em que possa dar mais munição aos que defendem o seu afastamento.
Falas, só mesmo em ambientes controlados. Não por acaso, o presidente interino da Câmara planeja dar uma declaração à TV Câmara, na qual defenderá que ocupa a vice-presidência da Câmara - o que o levou ao comando da Casa com a suspensão aplicada a Eduardo Cunha pelo STF - por ter sido eleito por seus pares.
O empresário Mário Cuesta, dono do "Diário de S.Paulo", visitou na manhã desta quarta-feira (18) as redações dos jornais "O Dia" e "Meia-Hora", do Grupo Ejesa, no Rio de Janeiro. Cuesta negocia a aquisição das publicações da Ejesa, que é, ainda, proprietária da marca "Brasil Econômico". O grupo português Ongoing controla 30% do Ejesa. Os outros 70% pertencem à empresária Maria Alexandra Mascarenhas, mulher do português Nuno Vascocellos e que vem a ser acionista do Ongoig. Nuno e Maria Alexandra tiveram com Cuesta mais cedo. Negócios envolvendo Cuesta e os portugueses da Ongoing não são uma novidade: Cuesta adquiriu a participação do grupo no portal IG em 2015.
O nó da negociação está em torno das dívidas da Ejesa com funcionários, fornecedores e impostos, que somam mais de R$ 250 milhões. Uma das primeiras medidas que Cuesta terá de tomar, caso adquira os jornais, é pagar parte da folha dos servidores do Grupo. As negociações continuam.
Reunida em Brasília, a Frente Nacional de Prefeitos prepara um relatório com algumas demandas e diagnósticos para entregar ao presidente interino da República, Michel Temer, no fim da tarde desta quarta-feira (18). Entre eles: o subfinanciamento da Saúde, a liberação de crédito internacional e o aprimoramento do diálogo federativo, algo que o próprio Temer já defendeu como necessário. No começo de março, estiveram com a presidente afastada Dilma Rousseff. Trataram da recriação da CPMF, da Previdência Social e da desvinculação de recursos da União.
No grupo que deverá se encontrar com Temer estão os prefeitos de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), de Porto Alegre, José Fortunati (PDT) e de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB).
Em 2006, uma onda de ataques envolvendo o crime organizado e a polícia de São Paulo paralisou o estado. Próximo ao Dia das Mães, após a transferência do líder do Primeiro Comando Capital (PCC), Marcos Willians Herba Camacho, para o presídio de segurança máxima Presidente Venceslau, motins tomaram 74 penitenciárias do estado, de forma articulada, dando início ao maior atentado contra as forças de segurança pública já registrado. O episódio gerou uma das retaliações mais sangrentas do período democrático brasileiro: ao longo de uma semana, foram assassinadas aproximadamente 500 civis de forma indiscriminada. Considerada uma das maiores chacinas da história recente do Brasil, os “Crimes de Maio” completam, neste mês, 10 anos sem solução – apenas em dois casos PMs foram condenados, mas nenhum está preso. Nessa semana, a Procuradoria-geral da República encaminhou para o Superior Tribunal de Justiça o pedido de reabertura e federalização dos casos, o que é motivo de comemoração para o movimento “Mães de Maio”, formado por mulheres que buscam justiça para a morte de seus filhos.
Para relembrar o caso, o Canal Futura produziu o documentário “Não saia hoje”. O filme acompanha a trajetória de um grupo de mães que luta pela punição dos responsáveis pela chacina, em memória de seus filhos assassinados neste período. Em entrevista, a diretora do filme, Susanna Lira, conta como as “Mães de Maio” superaram a perda. “Não saia hoje” também está disponível em www.futura.org.br.
Fundação Roberto Marinho - Doumentário aborda um tema muito delicado: mães que perderam seus filhos assassinados. De onde surgiu a ideia de documentar o caso das “Mães de Maio”?
Susanna Lira - Conheci a Debora Maria, uma das “Mães de Maio”, enquanto pesquisava para outro filme. Tudo nela me chamou a atenção, especialmente a força e a coragem com que lidava com uma questão tão árdua. Quando o Canal Futura propôs um edital sobre Direitos Humanos, não tive dúvidas de que esse seria o melhor tema para apresentar. O documentário narra a trajetória de um grupo de mulheres simples da periferia de Santos que, ao vivenciar o luto pela perda de seus filhos, se tornaram ativistas com reconhecimento internacional. Poderia até ser uma história de superação com final feliz e, de certa forma, tem esse lado também, mas hoje as “Mães de Maio” lutam para que outros filhos não tenham os mesmos destinos que os dela tiveram. Neste contexto, o filme também ressalta o quanto a juventude da periferia continua sendo exterminada em todo o Brasil, sem que haja punição e, na maioria das vezes, sequer uma investigação adequada. O dia 12 de maio de 2016, quando o filme estreia na TV, marcará os 10 anos desse massacre que aterrorizou São Paulo e é considerado uma das maiores chacinas da história recente do Brasil.
Fundação Roberto Marinho - Por que “Não saia hoje”?
Susanna - "Não saia hoje" foi o conselho que a maioria das mães de São Paulo deu aos seus filhos tentando protegê-los da violência que assolava o estado naqueles dias tenebrosos de maio de 2006. Infelizmente, por diversos motivos, esses jovens saíram para o trabalho ou para a escola e acabaram sendo brutalmente assassinados. Não existe mãe no mundo que não tenha a intuição ou o cuidado de aconselhar os filhos em dias em que as coisas parecem estar fora de ordem. O filme tem esse título justamente para representar as vozes dessas mães.
Fundação Roberto Marinho - Qual dos relatos mais te impressionou? Por quê?
Susanna - A morte de mais de 500 pessoas em duas semanas num estado como São Paulo é por demais assustador. Quando isso acontece próximo ao Dia das Mães, podemos imaginar o desespero de tantas mulheres numa só região do Brasil que passaram essa data em luto profundo. Tudo é muito impressionante, mas a capacidade que muitas delas tiveram de transformar essa dor numa luta por direitos humanos é que me comove. Não se deixar abater diante dessa tragédia é ir além do senso comum, é conseguir ser uma pessoa extraordinária.
Fundação Roberto Marinho - Como foi ouvir estes relatos?
Susanna - Como documentarista e mãe, foi bastante difícil ouvir os relatos sobre a ausência insubstituível que esses filhos deixaram para suas mães. Para a sociedade são apenas números e para o estado, simples estatísticas, mas para quem perde um filho é um abismo que se abre, uma construção que se rompe, um sonho acalentado que lhe é arrancado do peito. O que sobra de vida, elas transformam em luta todos os dias. E se pode haver uma beleza nisso tudo, eu reconheço na ação de quando elas conseguem traduzir o fôlego que lhes restam em novos caminhos, em esperança.
Fundação Roberto Marinho - Em sua trajetória como cineasta, muitos de seus filmes têm como personagem principal a mulher. Você se considera feminista? De que forma seus documentários trazem à tona questões do feminismo?
Susanna - Eu vejo nas mulheres uma incrível fonte de inspiração. Já fiz diversos filmes, mas sem dúvida a força do feminino predomina em minha filmografia. Quando comecei a dirigir, o feminismo não era uma pauta tão em voga, hoje é uma condição de sobrevivência. Acredito que os documentários iluminam questões da sociedade, e sendo assim, meus filmes podem ser instrumentos de reflexão e denúncia. Nesse sentido, todos os filmes que fiz até agora revelam o protagonismo feminino em causas sociais, denunciam violações dos direitos humanos e reivindicam melhores oportunidades para mulheres e meninas em várias esferas da sociedade.
O PTB, que acaba de assumir o Ministério do Trabalho, está prestes a fechar uma parceria com uma pequena central sindical: a Central Brasil Democrática de Trabalhadores (CBDT). Ela pretende ser o braço sindical da legenda. O presidente da entidade, Antonio Mauro de Souza, reuniu-se com o secretário-geral da sigla, o deputado estadual Campos Machado (SP), para acertar os detalhes. “Com a ajuda do PTB, tenho certeza que cresceremos muito”, afirmou o presidente da entidade. “Há 2 mil sindicatos sem ligações com centrais sindicais e outros 1.000 sindicatos inativos”.
A CBDT, cuja sede é Ribeirão Preto (SP), afirma ter cerca de 100 sindicatos filiados.
Em meio à convulsão política do país nos idos de maio, passou praticamente despercebida a divulgação da Terceira Comunicação Nacional do Brasil, o documento oficial contendo o inventário de emissões de gases de efeito estufa do país no período de 2005 a 2010. O inventário foi entregue na surdina à ONU no dia 20 de abril. Não fosse a imprensa tê-lo descoberto, talvez até hoje repousasse numa gaveta da Casa Civil, que demorou incríveis oito meses para aprová-lo depois de pronto.
Sem especular sobre as razões que levaram o governo a manter o documento por tanto tempo incógnito, o terceiro inventário traz uma verdade inconveniente: nossa conta pretérita do clima é muito mais alta do que se imaginava. A nova metodologia usada para calcular as emissões por desmatamento aponta que em 2005, no auge de suas emissões, o Brasil lançou 2,73 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera. O inventário anterior, publicado em 2010, calculava as emissões totais para 2005 em 2,1 bilhões de toneladas.
Acontece que a meta climática apresentada pelo Brasil antes do Acordo de Paris, a chamada INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida), calculou a redução de emissões proposta do país, de 37% em 2025, com relação aos níveis de 2005 do segundo inventário. No anexo da INDC, documento que o governo divulgou “apenas para fins de esclarecimento” – e que, portanto, não faz parte da meta, – as emissões absolutas em 2025 são estimadas em 1,3 bilhão de toneladas após a consecução da INDC.
Não precisa ser formado no ITA para ver que essa conta não fecha à luz do terceiro inventário. Usando-o como base de cálculo, uma redução de 37% em relação aos níveis de 2005 equivaleria a 1,7 bilhão de toneladas de gases-estufa em 2025. Considerando que o próprio governo estimou que em 2012 o país emitiu 1,2 bilhão de toneladas, o que se estará realmente propondo com a INDC do jeito que está é que o Brasil aumente suas emissões em cerca de 40% em 2025 em relação aos níveis atuais. Pode isso, Arnaldo? Num passe de mágica, a meta brasileira, vendida em Paris como uma das mais ambiciosas do mundo, viraria um pedido de licença para poluir mais.
A mudança nos números não aconteceu por má fé, briga política ou golpe. O que houve foi algo comum, esperado e incentivado nas ciências: uma atualização por conta de uma melhoria de método de cálculo. A metodologia utilizada para calcular emissões por desmatamento e outras mudanças no uso do solo aplicada no 2o inventário era robusta, mas menos sofisticada que em 2015. Os dados do segundo inventário eram a melhor informação disponível na época. Os do terceiro são a melhor informação disponível agora.
O novo inventário cria, portanto, um aparente xeque-mate para Michel Temer e seus ministros do Meio Ambiente, Sarney Filho (PV-MA), e da Fazenda, Henrique Meirelles. Por um lado, o governo atual não pode fingir que o novo inventário não existe e manter a cara de paisagem diante da comunidade internacional com a INDC feita com dados ultrapassados. Por outro lado, tampouco é possível manter os percentuais de redução da INDC usando as emissões de 2005 do terceiro inventário.
Ocorre que, por baixo da casca espinhosa, o abacaxi que Temer e seus ministros têm nas mãos é uma fruta bem doce. Num momento em que o Brasil prepara no Congresso a ratificação do Acordo de Paris bem antes do prazo, anunciar o ajuste imediato da INDC à luz do terceiro inventário faria bem à imagem do país – de resto, cercada de desconfianças na comunidade internacional na esteira do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
E, em meio à sinuca que enfrenta Henrique Meirelles para colocar a economia do país e as contas públicas em ordem, se o novo ministro prestar atenção nos diversos estudos que embasaram a INDC do Brasil, de repente se dará conta de que a maior oportunidade para sairmos da crise está nas oportunidades de ação climática no Brasil. Há tempos o Observatório do Clima repete esse mantra: em nenhum país como o Brasil, investimento bom para o clima é melhor ainda para a economia.
Então como deve agir o governo? Em primeiro lugar, Michel Temer deve assumir como meta brasileira aquilo que foi comunicado à comunidade internacional no anexo da INDC: o limite absoluto de redução a 1,3 bilhão de toneladas para 2025. Ao fazê-lo, garantiria transparência, clareza e compreensão, princípios básicos definidos pela Convenção de Clima das Nações Unidas para as metas de cada país para o Acordo de Paris, aos seus parceiros internacionais e sinalizaria a continuidade de um grau de prioridade para a agenda climática que os outros países temem que desapareça com o novo governo.
Se completasse o ajuste com o anúncio da intenção – condicionada ao mesmo movimento por parte dos outros grandes emissores – do Brasil de rever a própria INDC em 2018 a fim de compatibilizá-la com o objetivo de longo prazo do Acordo de Paris (manter o aquecimento global bem abaixo dos 2oC e fazer esforços para chegar a 1,5o C), o Brasil daria, além de tudo, uma demonstração de liderança pelo exemplo.
Se o ganho externo é alto, o custo político interno é baixo. O próprio governo federal tem à sua disposição um extenso cardápio de oportunidades de mitigação nos principais setores da economia – o projeto Opções de Mitigação, realizado pelo recém-extinto Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e estranhamente ignorado durante a elaboração da INDC. Além disso, a própria recessão atual torna conservadora a meta anterior, calculada sobre projeções de crescimento do PIB que ora parecem excessivamente otimistas.
O governo brasileiro interino, assim, está com um bom problema na mão. É obrigado a fazer um ajuste na meta de clima e ainda deve faturar politicamente com ele. Sarney já mostrou que entende do poder do símbolo na política ao reestrear como ministro do Meio Ambiente numa viagem a Mariana. A INDC é mais uma oportunidade esperando para ser colhida.
Carlos Rittl, 47, é secretário-executivo do Observatório do Clima, uma rede de 41 organizações da sociedade civil
Passava das 14 horas, quando o então soldador Mario César González recebeu uma ligação no celular. Visivelmente transtornado após uma rápida conversa com uma jovem de voz apressada, Mário desligou o telefone. Àquela altura, Hilda Hernández Rivera já tinha lavado a louça do almoço e se ocupava com outros afazeres domésticos. Para a mulher, com quem é casado há vinte e sete anos, não revelou o que ouvira. Disse apenas que precisavam ir até a escola onde o filho estudava havia pouco mais de um mês. “Parece que o menino se meteu em encrenca”, disse. A filha, cujo nome pedem que não seja revelado, hoje com 22 anos, quis acompanhá-los. “Você fica”, disse Mario. Então, buscou ajuda de um compadre taxista para ir de Huamantla, cidade de Tlaxcala, ao centro do México, para Ayotzinapa, aldeia de Guerrero, a sudoeste do país, distante quase quinhentos quilômetros. “Foram doze horas na estrada, sem paradas”, diz Hilda. Enquanto ela fazia orações no banco de trás do carro, sem ter ideia clara da razão das preces, Mario ligava para o celular do filho. Ninguém atendeu.
Chegaram em Ayotzinapa de madrugada. O veículo parou em frente aos portões da escola, adornado com a imagem de uma tartaruga gigante. Daquele lugar, o filho mais velho de Hilda e Mario, César Manuel González Hernández, tinha falado pouco mais que o nome: Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos. Na caminhada rumo ao pátio do colégio, Mario lembrou-se do dia em que o filho, eufórico, contou ter passado no teste e garantido uma vaga na escola. “Na hora, disse: ‘Você não vai’”, afirma Mario, com a voz embargada. Uma frase do filho amoleceu o pai durão. “Pai, me dá a chance de ser o que eu quero pela primeira vez na vida?”.As aulas de César, o garoto apaixonado por montaria em touros e corridas de alta velocidade, começaram em agosto de 2014. Foi a última vez que se viram.
Este mês, o desaparecimento de 43 estudantes – incluindo César, o filho de Mario e Hilda - chegou à Corte Internacional de Direitos Humanos. Depois de um ano de investigações, o Grupo Interdisciplinar de Experts Independentes (Giei) relatou “as atrocidades cometidas” em 26 de setembro de 2014, que marcaria a vida de Hilda e Mario e a política no México. O caso permanece sem solução. “Como depois de um ano e meio o México não é capaz de responder que aconteceu?”, afirma o secretário geral da instituição, Emilio Álvarez Icaza. "Sem respostas, a crueldade com esses pais não termina. É uma maneira de matá-los todos os dias". A CIDH acompanhará o caso. Em agosto, o governo mexicano deve se pronunciar sobre o "desaparecimento forçado".
O México contabilizou mais de 22 mil desaparecidos até 2014 e mais de cem mil mortos desde 2006, segundo a ONG Human Rights Watch. Parte desta estatística macabra é produto da guerra do governo mexicano contra os sanguinários cartéis que controlam o tráfico de drogas - e, consequentemente, alimentam a corrupção da polícia e do Estado. Requintes de crueldade, como esquartejamento e despejo de corpos em vias públicas, são táticas comuns dos traficantes. O tráfico e a polícia figuram, obviamente, entre os suspeitos pelo sumiço dos estudantes.
Naquela noite de 26 de setembro de 2014, alunos de Ayotzinapa interceptaram um ônibus numa estrada que leva ao centro de Iguala, cidade da província de Guerrero. A ideia era chegar à Cidade do México e marchar em memória de um massacre estudantil de 1968, quando manifestantes foram reprimidos a tiros pelo Exército. O motorista foi ao terminal, desceu e trancou-os dentro do veículo. Depois que colegas os libertaram, uma hora depois, todos partiram em outros cinco ônibus. Dois veículos, que foram pelo lado sul da cidade, foram detidos por policiais,que furaram os pneus a bala, lançaram gás lacrimogêneo e obrigaram os estudantes a descer. Os três veículos que seguiram pelo lado norte também foram interceptados. Um deles foi alvejado 30 vezes. Em cenas gravadas por celulares, é possível ouvir: “Não temos armas senhor, por que estão apontando para nós?”. Ao todo, naquela noite, seis pessoas morreram e dezenas ficaram feridas.
Outras 43, no entanto, simplesmente desapareceram. Desde então, versões oficiais para o fato foram desmentidas, e mais de uma centena de pessoas, incluindo policiais, militares e até o prefeito de Iguala e sua mulher, foram presas, suspeitas de envolvimento no crime. Testemunhas apontaram um local onde os corpos dos estudantes teriam sido incinerados, mas perícias indicaram que a informação era falsa. O relatório do Giei acusa o governo de dificultar e obstruir o trabalho da equipe. Procurado, o governo mexicano não respondeu.
Quando Hilda e Mario foram a Iguala, na manhã de 28 de setembro de 2014, buscaram ajuda em delegacias, hospitais e até no batalhão do Exército. Segundo Mario, um dos moradores disse: "Aqui em Guerrero é assim mesmo: a polícia prende, bate e depois de três dias solta". Mario repete as palavras, como se elas o atingissem de novo. "Tinha a impressão que não estava no México”, diz. O que se seguiu foi ainda mais perturbador. As autoridades não só afirmaram desconhecer o paradeiro dos estudantes, como negaram qualquer ação policial ou militar no dia 26 - inclusive diante de sobreviventes do massacre.
Desde a viagem apressada em busca do filho, Hilda e Mario nunca mais voltaram para casa. "Uma casa não tem valor sem a pessoa que mais amamos”, diz Mario. Há quase 600 dias moram num dormitório estudantil em Ayotzinapa, cedido por um aluno. No quarto, uma cama e uma cadeira doados, assim como as roupas, os calçados e as linhas que Hilda usa para bordar. Todo o dinheiro é arrecadado por doações, assim como comida, roupas e itens de higiene pessoal. Às noites, de três horas de sono, diz Hilda, os pensamentos correm para César. "Penso se o maltratam, se tem o que comer ou onde dormir. Daí me policio dizendo que não posso pensar isso", diz. "Todos os dias desperto pensando que é o dia que vou poder abraçar meu filho de novo." Hilda afirma que viveu e criou os filhos num México paralelo à realidade. "Não tinha maldade para desconfiar de alguém, então não ensinei meu filho a suspeitar dos outros", diz, numa das conversas. A lembrança machuca tanto que nem ela nem o marido são capazes de falar sobre César por mais de trinta minutos - nem da filha caçula, que ainda pede para viver com eles. Suas vozes vão sumindo, até pedirem para desligar.
Hilda conta rapidamente como foram os tantos dias como se não os tivesse vivido intensamente. Foge dos detalhes para não alongar o massacre que é pensar em como a vida mudou. Pela manhã, lê as notícias sobre os desaparecidos em busca de informações erradas porque "as pessoas não podem mais ficar desinformadas". Quando tem fome, come um pouco ao meio-dia. À tarde, organiza ações pelos 43 dentro e fora do México . No fim do dia, volta para a escola. Então, o mesmo ciclo se repete. A coragem levou Hilda e uma caravana de mulheres ao Uruguai, à Argentina e aos Estados Unidos, quando o Papa Francisco visitou o país. Tentaram encontrá-lo, sem sucesso. "Mas não desisti de pedir ajuda ao Papa", diz Hilda. Periodicamente os pais dos desaparecidos promovem passeatas pacíficas para lembrar o caso e denunciar o que consideram ser um caso de repressão por parte de agentes do estado.
Na luta da memória contra o esquecimento, os pais marcham pressionando o governo por respostas. Uma brigada armada de policiais comunitários, tenta garantir a segurança aos pais. Numa das manifestações que organizaram, Mario tomou o microfone conturbado com a inércia dos moradores."Como é possível que não se levantem contra isso (os desaparecimentos)? Desgraçadamente, essa luta me trouxe generosidade. Não sabia o que era me importar com os outros. Agora, me preocupo com milhares. Estou duas vezes orgulhoso por isso que meu filho me deu", diz. Nessa mesma gravação, é possível ouvir os estudantes de Ayotzinapa aos gritos: "Por que? Por que nos assassinam?".
Nem Hilda nem Mario falam sobre o filho como memória ou lembrança. Usam sempre tempos verbais no presente - e corrigem, rapidamente, quem fale em César como alguém que não sobreviveu ao massacre. Pai e mãe não resistiriam por tanto tempo se pensassem que a busca terminaria num enterro. "Não tenho medo de morrer. Meu maior medo é encontrar meu filho morto", diz Hilda, na única vez que conseguiu falar sobre o futuro. Então, Hilda desconversa e passa a narrar uma homenagem que estudantes da escola preparam aos amigos desaparecidos. Em meados de outubro de 2014, na antiga quadra de basquete, diz Hilda, os alunos dispuseram quarenta e três cadeiras alaranjadas, com apoio para o braço, lado a lado, como numa sala de aula. Em cada cadeira, a foto de um desaparecido e uma tartaruga de tecido. "É para nossos filhos saberem que não foram esquecidos. Quando forem encontrados, as cadeiras estarão esperando por eles", diz. Hilda e Mario colocaram a foto de César numa moldura dourada, estilo rococó. Hilda escreveu um bilhete pedindo ao filho que não demore a voltar.
Acabamos de conhecer os novos ministros que estarão nas pastas do governo brasileiro. Como esperado, a mídia concentrou foco nos cargos convencionalmente mais valorizados, como as pastas do planejamento e economia e na discussão sobre a redução da estrutura estatal, com a extinção de alguns ministérios. Passou pouco percebida, no entanto, a indicação de José Sarney Filho ao Ministério do Meio Ambiente.
O menor brilho que a sociedade dedica ao tema reverbera numa assimilação sem maiores reações da indicação realizada, mesmo com a competição que houve ao longo dos últimos dias com um candidato ruralista, também pretendente ao cargo.
O político Sarney Filho assume com a bagagem de ter exercido esse mesmo cargo entre 1999 e 2002. Ele sabe que enfrentará desafios ainda maiores hoje, tamanha a escassez de recursos de todas as instituições atreladas ao Ministério do Meio Ambiente. Esta carência tem razão de ser, pois essa é uma das áreas em que os cortes chegam antes de todos os demais.
O ministério e suas instituições, que são as responsáveis pelas ações de controle e de licenciamento ambiental, são vistos por muitos como um atrapalho. Uma instância de poder para ser mantida sem muitas condições de exercer suas funções plenamente. No Congresso Nacional, é explícita a atuação de diversos setores da economia representados por parlamentares em busca de um contínuo cerceamento das atividades relacionadas aos cuidados com o meio ambiente.
O absurdo causado pela Samarco em Mariana (MG) não intimida o atual Congresso Nacional a uma busca incessante para dar aos processos de mineração uma condição de aprovação mais simplificada e célere. A agropecuária consegue escalar como Ministro um ator conhecido por ter trabalhado na ampliação de áreas de agricultura no Mato Grosso às custas de desmatamento da Amazônia. E que está à frente dos esforços para aprovar a lei que desmantela o processo de licenciamento ambiental no Brasil.
Trata-se da PEC 65/2012, que pretende dar fim à necessidade de licença ambiental para obras públicas, permitindo uma ampla flexibilização na fiscalização de empreendimentos e colocando em risco a sociedade em função de danos irreversíveis ao meio ambiente. É franca e aberta a lida de desmanche da legislação ambiental para facilitar empreendimentos que já deveriam ser avaliados com muito mais critério.
O Ministério do Meio Ambiente do governo brasileiro tem muito mais responsabilidades do que imagina a maioria da população. Sua importância estratégica não é menor do que as pastas que hoje detêm um tipo de poder majoritário, embora apenas focadas em interesses setoriais.
Há inúmeras implicações em nossas vidas, nos negócios e no bem estar da sociedade que se encontram atreladas às questões ambientais. As mudanças climáticas e a perda da biodiversidade têm efeitos diretos na ampliação geográfica de muitas doenças transmissíveis, um problema de saúde pública que está fora de controle no país. Além disso, a resiliência em ambientes urbanos e rurais para enfrentamento de eventos climáticos extremos depende da existência suficiente de áreas naturais bem conservadas para serem mitigadas.
São incalculáveis os custos para a economia das consequências que o continuado desrespeito às normas de controle ambiental já nos causaram. Estamos abarrotados de casos de degradação da natureza que geram resultados econômicos setoriais de curto prazo e coletivizam gigantescos prejuízos decorrentes dos impactos causados por essas atividades.
Ao novo Ministro Sarney Filho, a partir da defesa de seus conhecidos posicionamentos e sua habilidade política, os votos de uma passagem ativa e consistente nesse relevante ministério do governo federal – mesmo que a maioria da sociedade e dos políticos não aceitem ainda as evidências dessa importância.
O meio ambiente é tema de interesse público e uma gestão ambiental responsável, um pré-requisito para o sucesso de projetos de desenvolvimento. É perseverando na premissa de que esse tema represente uma prioridade para a nação que, em algum momento futuro, deixaremos de andar para trás.
Clóvis Borges – diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS)
O deputado federal Celso Pansera (PMDB-RJ), ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Dilma, decidiu atrapalhar a decisão de Michel Temer de fundir as estruturas dos ministérios da Cultura e da Educação. Ele disse que apresentará uma emenda à medida provisória que, na prática, anula seus efeitos. Em sua justificativa, o deputado afirma que as duas Pastas têm “inegável relevância para o país, cuja abordagem pelo poder público demanda ministérios independentes e autônomos”.
Pansera trabalhou até o dia da votação na Câmara, em 17 de abril, no convencimento de seus pares contra a admissibilidade do impeachment. Fez isso desobedecendo orientação da legenda.
A definição de dois postos-chave para o governo Michel Temer no Congresso Nacional aguarda a decisão do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira.
Caberá ele indicar o relator-geral do Orçamento para o ano que vem, o primeiro a ser discutido no Legislativo com Temer no Palácio do Planalto. Um dos nomes cotados para o cargo é o do senador Waldemir Moka, do PMDB de Mato Grosso do Sul.
Além do mais, Eunício, à frente da maior bancada e dado como nome certo para substituir Renan Calheiros na presidência do Senado no ano que vem, é o principal interlocutor de Temer para a escolha do líder do governo no Senado.
Há dois dias da votação do Impeachment pelo Senado, numa terça outonal de céu azul sem nuvens, a brasileira Luiza Carvalho, recém- chegada a Brasília, esperava para mostrar os resultados de um relatório mundial inédito. Desde outubro de 2014, Luiza está à frente do diretório regional da ONU Mulheres para a América Latina e Caribe. Um dos capítulos do relatório não poderia ser mais atual e pertinente, a paridade democrática na América Latina – ou a participação de mulheres na política. “Nenhum país fez o que devia pela mulher. A desigualdade não foi eliminada nem superada”, ela diz. E Luiza nem sabia o que estava por vir.
ÉPOCA: Qual a situação do Brasil no ranking? Luiza Carvalho: O Brasil está no pior lugar do ranking de mulheres na política, ao lado de Belize e Haiti, com vexatórios 9% de mulheres em cargos legislativos ou executivos. Apesar dos países ratificarem normas garantindo 30% dos cargos para mulheres, a máquina política interrompe a ascensão feminina. O Brasil adotou as cotas, mas os partidos nunca tiveram determinação para adotá-las. No Brasil, como em outros países, existe uma resistência à presença da mulher na política, com base em achismos que não fazem sentido.
ÉPOCA: O que impede a mulher de crescer dentro dos partidos?
Luiza Carvalho: Já ouvimos que a maternidade atrapalha, que mulher não traz voto nem dinheiro ao partido. Mas mulher não faz filho sozinha. Sobre os votos, basta olharmos para outros casos no mundo, como o Canadá (o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau escolheu, igualmente, o número de homens e de mulheres ministros).
ÉPOCA: Uma das ambições descritas no relatório é a paridade democrática, ou seja, o mesmo número de representantes mulheres e homens. Por que o equilíbrio é importante? É uma missão possível em países em desenvolvimento?
Luiza Carvalho: As pessoas precisam estar representadas no governo. Para tanto, as mulheres têm de estar lá. Se é possível? É sim, e não apenas de nações desenvolvidas, como já falei. Na Bolívia essa é uma realidade. No México e na Nicarágua, a participação feminina está aumentando. O Brasil é um sinalizador para a América Latina.
"Adoro falar safadezas
nos ouvidos de meu bem
sussurro baixinho: senado,
Congresso, PP e Dem"
Nasceu a primeira paródia de sucesso do presidente em exercício, Michel Temer, nas redes sociais. Foi na sexta-feira, dia 13, um depois de Temer assumir o cargo. O perfil @temerpoeta, no Twitter, publica versinhos singelos sobre o governo interino e suas (já numerosas) gafes, sobre o cenário político e sobre maluquices como referências à prática de satanismo.
"Ó, mundinho feminino
Fazei-te representar
Na cozinha, no banheiro
Limpando uma sala de estar"
O autor das poesias satíricas é Daniel Ramos, um funcionário público de 25 anos de Brasília. Ele mesmo é poeta, mas não tem nenhum livro publicado. "Ainda", ele diz, numa entrevista via Twitter a ÉPOCA. Ramos e mais dois amigos editam uma revista independente de poesia, em suas primeiras edições, a Caroço. "Li alguns poemas do livro do Temer, que são poemas fraquinhos, diria até bobos. Não entrariam na revista, haha", Ramos ri virtualmente. O livro de poesias do presidente Temer (original), Anônima Intimidade, foi lançado em 2012. Quando a carta do "vice decorativo" vazou, em dezembro de 2015, muitas pessoas recorreram às estrofes para tentar entender a "alma" de Temer. "Esses poemas já estavam virando piada na internet, quando um amigo comentou que o usuário @temerpoeta estava disponível no Twitter. Isso me deu a ideia pro perfil", explica Ramos.
"Lava-jato não conheço
Lava-jato não vi
Padilha, Renan e aécio,
Viram algo por aí?"
Ramos colocou, no perfil que criou, a definição "Minh'alma se apetece" e a data de nascimento de 8 de maio de 1896. "Foi a mais antiga que o Twitter me permitiu usar." Perguntado sobre sua identificação ideológica, Ramos explica que não é partidário de nenhum governo. "Mas tenho críticas ao modo como esse processo político se deu. Não vejo com bons olhos a nossa elite política. Estamos assistindo a um jogo de poder e várias dessas figuras são velhos caciques com interesses questionáveis", diz o jovem.
"Petista ou tucano pra mim
Não fede e nem cheira
Lindo mesmo é belzebu
E dinheiro na carteira"
Ramos acredita que, com seus versos, pode unir humor à crítica política. "As duas coisas andam juntas. O humor tem força pra escancarar contradições, mostrar absurdos, além de ser bom por si só. Faço um pouco dos dois, e me divirto fazendo." Em cinco dias, o perfil já tem mais de 14 mil seguidores. Nem o autor esperava tamanha repercussão. Ao brincar com a boataria do satanismo, Ramos diz não temer represálias. "Os boatos de que Temer seria satanista já eram uma piada disseminada antes que eu fizesse o personagem. Apenas uso como parte da brincadeira", justifica.
Ex-prefeito de Maringá (PR) e irmão do ministro da Saúde, Ricardo Barros, Silvio Barros escapou, pelo menos temporariamente, de pagar uma multa de R$ 1 milhão aplicada por ter sido condenado por improbidade administrativa. A decisão foi proferida no começo do mês.
O Ministério Público do Estado acusou o ex-prefeito de ter contratado um servidor para o seu gabinete e, depois, tê-lo transferido para outro Posto, o que configuraria um desvio de função. O que a defesa contestou, agora, foi o valor da multa. “Conseguimos demonstrar que a multa, correspondente a 30 vezes o salário do então prefeito, era completamente desproporcional ao ato, que não causou prejuízos ao erário”, afirma a advogada de Barros, Gabriela Rollemberg. A multa está suspensa até que o mérito da ação seja julgado.
Silvio deverá se candidatar novamente à prefeitura de Maringá pelo PP, a mesma legenda de seu irmão.
Com a ida de Fernando Coelho Filho para o ministério de Minas e Energia, o PSB escolheu hoje o novo líder da bancada. Será o deputado Paulo Foletto, do Espírito Santo.
Júlio Delgado e Tadeu Alencar chegaram a ensaiar a entrada na disputa, mas acabaram abrindo mão do pleito.
Carolina Andrade dedica a vida a montar quebra-cabeças químicos. Professora da Universidade Federal de Goiás, Carolina tenta descobrir novos fármacos - os princípios ativos dos medicamentos - para tratar doenças como malária e leishmaniose. São males que costumam afetar comunidades pobres em países em desenvolvimento, e para os quais os tratamentos disponíveis são pouco eficientes ou nem sequer existem: “A indústria farmacêutica, muitas vezes, não tem interesse em criar bons medicamentos para essas doenças”, diz Carolina. Em 2015, ela e o colega Sean Ekins, um britânico especialista no desenvolvimento de novas drogas, trabalhavam na criação de tratamentos para dengue quando foram surpreendidos pelo surto de zika: “Os dois vírus pertencem à mesma família, são muito parecidos”, diz Carolina. “Decidimos expandir nossas pesquisas para tratar de zika também.”
Descobrir uma substância capaz de incapacitar um vírus é, em grande parte, um trabalho de tentativa e erro. Para infectar um hospedeiro, o vírus produz proteínas que se conectam à célula que ele quer invadir. A missão dos cientistas é descobrir compostos químicos capazes de se ligar a essas proteínas e barrar a invasão. Para fazer isso, Carolina e Sean usam programas de computador que analisam a estrutura do vírus e selecionam substâncias químicas com potencial para combatê-lo. No laboratório, a equipe de Carolina testa esses compostos selecionados para verificar como o vírus se comporta na presença deles. O processo de montagem desse quebra-cabeça, em que é preciso descobrir a substância certa que encaixe no invasor, é demorado e exige o uso de máquinas poderosas. Carolina e Sean decidiram acelerar o trabalho ao dividir suas análises entre um exército de computadores e celulares voluntários espalhados pelo mundo.
Desde 2004, a IBM, a gigante americana do setor de informática, coloca à disposição de cientistas um recurso chamado World Community Grid (WCG). Trata-se de uma rede de computadores espalhados pelo planeta e que pertencem a pessoas comuns, dispostas a doar parte do poder de processamento de suas máquinas a projetos com os quais elas se identificam. Quando você deixa seu computador ligado para ir almoçar, ou quando mata o tempo navegando pelo Facebook, grande parte da capacidade de processamento da máquina deixa de ser usada. Quem participa do WCG faz o download de um aplicativo que identifica esses momentos de ociosidade. O programa então usa esse poder de computação excedente para processar dados de pesquisas como as de Carolina.
O WCG faz parte de uma estratégia apelidada de “computação distribuída”. Ela começou a ser desenvolvida no final dos anos 1990 e, hoje, é empregada por outros grupos além da IBM e em diversas áreas da ciência: do desenvolvimento de novos medicamentos à busca de vida extraterrestre. Baseia-se na ideia de que, em lugar de usar poucas máquinas poderosas - e caras - para resolver um problema, é mais eficiente dividir esse problema entre um número grande de computadores e aparelhos celulares, cada um dedicado a analisar um número pequeno de dados.
A rede de computadores voluntários criada pela IBM se dedica a projetos relacionados a saúde e sustentabilidade. São cerca 700 mil máquinas que já ajudaram no combate à epidemia de ebola na África, ao oferecer estrutura para os cidadãos comunicar demandas diretamente aos governos; e que foram usados na comparação dos genomas de diversas espécies de seres vivos - um conhecimento importante para o desenvolvimento de medicamentos -, em um projeto desenvolvido no Brasil pela Fiocruz.
Uma das vantagens da computação distribuída é que ela permite aos cientistas ser ambiciosos: “Muitas vezes, os cientistas nos enviam propostas de projetos que foram adequados às limitações dos recursos das universidades em que eles trabalham”, diz Patrícia Menezes, executiva de Cidadania Corporativa da IBM para América Latina. Eles têm espaço para ser mais ousados. O projeto de Carolina foi dividido em duas etapas. Na primeira, os pesquisadores vão usar os recursos do WCG para analisar 20 milhões de substâncias químicas. Essa primeira fase está programada para durar até dois anos - mas deve terminar antes disso, pelos cálculos da pesquisadora. Se render bons frutos, o projeto parte para a segunda etapa, durante a qual serão examinadas 90 milhões de substâncias: “Nós levaríamos anos para fazer essas análises no meu laboratório. Que é um laboratório bom, voltado para isso”, diz Carolina. “Isso inviabilizaria o projeto. Ou nos forçaria a pensar em um conjunto de substâncias menor.”
Carolina e Sean descobriram o WCG por acaso, através de um comentário que ele leu no Twitter. Em fevereiro, a IBM abriu um processo de seleção, em busca de projetos relacionados a zika que pudesse apoiar. A empresa faz isso com certa periodicidade, para temas variados. “Mas os pesquisadores podem sempre nos procurar com projetos próprios”, diz Patrícia. O contato é feito através do site do WCG. É também por lá que os não cientistas podem se tornar colaboradores - basta fazer um cadastro e baixar um aplicativo. Um esforço ínfimo, que pode ajudar a ciência a avançar a passos mais largos.
A cúpula do PCdoB visitou, na segunda-feira à noite, a presidente afastada Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada.
Estiveram com a petista o governador do Maranhão, Flávio Dino, o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo e os deputados federais Daniel Almeida, Luciana Santos (presidente do partido), Orlando Silva e Jandira Feghali. Os ex-ministros Ricardo Berzoini e José Eduardo Cardozo e ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo, também participaram.
Dilma, segundo o relato de presentes, fez uma análise dos primeiros dias do governo interino de Michel Temer (PMDB). Apostou que as medidas adotadas ou prometidas pelo peemedebista - corte dos ministérios da Cultura e dos Direitos Humanos, reforma da Previdência e revisão de programas como o Bolsa Família - devem "aprofundar" seu desgaste na área social.
A presidente afastada afirmou ainda que vai convidar os senadores que votaram contra a abertura do impeachment para uma reunião.
Embora esteja numa cruzada contra os que votaram a favor do impeachment e mantenha o discurso de oposição ao governo federal, no Rio de Janeiro o PDT negocia com o PMDB, de Jorge Picciani, a formação de uma chapa para disputar a sucessão de Eduardo Paes na prefeitura. Outras siglas, à esquerda, ainda namoram o PDT. Mas para fechar a coligação, Rafael Picciani - antes tido como o provável candidato a vice de Pedro Paulo Carvalho - já topou abrir mão do espaço para ceder ao indicado do partido de Lupi. As negociações continuam.
O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy foi sistematicamente desprestigiado pela presidente afastada Dilma Rousseff durante o curto período em que esteve na pasta. Mas, mesmo depois de passar a integrar a diretoria do Banco Mundial, em Washington, não cortou laços com a presidente. Levy manteve contato constante por telefone e email com Dilma, oferecendo conselhos sobre a política econômica e se dispondo a “colaborar” no que fosse possível. Chegou a ligar, inclusive, após o afastamento da presidente. Levy não apoiava o impeachment e dizia a pessoas próximas que era melhor ter Dilma no poder do que qualquer outro nome da linha sucessória.